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As Festas Juninas e o bem que fazem para o Povo de Porto Amazonas

As festas juninas têm a sua origem na Europa e pode ser que tenham começado como algum festival pagão de verão. Com o advento do cristianismo passaram a ser festas para homenagear santos do Catolicismo, como Santo António, São João, São Pedro e São Paulo. Quando os portugueses, que eram católicos, vieram para o Brasil, eles trouxeram junto essa tradição de celebrar essas festas para homenagem àqueles que foram um grande exemplo de vida, celebrando com fé e muita alegria. Aqui essa tradição adquiriu traços da nossa cultura, incorporando os trajes, jogos e comidas típicas do país. Ao longo do tempo, ela perdeu um pouco do caráter religioso e se tornou algo da cultura popular da brasileira, pois já não celebra mais só os santos, mas sim a vida rural e simples do interior. Hoje em dia, não são apenas as igrejas que realizam esse tipo de festa, mas os brasileiros em geral, independente da religião.

Em Porto Amazonas, essas festas são celebradas há muitos anos, provavelmente, desde que o primeiro povoado se assentou por aqui. Durante o mês de junho, julho e, em alguns casos, agosto, vemos que em quase todos os finais de semana tem em algum lugar uma festa desse caráter. Sempre com o tradicional quentão, aquele pastel de carne-moída e o jogo de bingo (que agora não pode mais ser chamado assim, pois temos que dizer que é “show de prêmios” porque o Governo quer). As festas mais tradicionais em nossos municípios são a Festa da capela de São João e a das Escolas Olívio Belich/Tupi Pinheiro e do Colégio Coronel Amazonas.

Agora vocês devem ter se perguntado, “o que ele está falando no mês de Abril em festas que só começam em Junho?”. Então, digo-lhes que o assunto aqui não é o evento em si, mas o que representam para a comunidade. Apesar dessas festas ainda serem muito fortes, quero abordar aqui duas situações que tenho visto que tem mudado ao longo do tempo. As festas de escolas, antes eram realizadas nas próprias dependências o que lhe dava um caráter muito especial. Eu me lembro de ir às festas do Olívio Belich e ver as ruas Barão do Cerro Azul e a João Pessoa tomadas de carros por todo lugar. Lembro-me da fogueira, do local que ficava o quentão, de ir comprar pastel onde ficava a cantina, a pescaria, etc. Da mesma forma eu me lembro das festas do Coronel Amazonas, daquela piazada brincando de “Mãe” nos corredores, do lugar que tinha várias quadrilhas, show de calouros e etc. Agora isso mudou um pouco, pois a maioria das festas passou a ser realizadas no Centro de Convenções. Creio que isso facilitou para os organizadores, mas também vi que elas perderam um pouco a graça, pois passaram a ser todas iguais, ao estilo de um simples bingo… Não tem mais aquele caráter especial que tinha cada uma. Bem, mas isso não é exatamente um problema, pois quem organiza que sabe o que passa e realizar as festas naquele espaço comum deve facilitar um bocado, principalmente em termos de logística e de limpeza.

Já outra coisa que mudou e, que a meu ver, é um ponto mais preocupante, é o fato de que as festas estão mais “enxutas”. Isso acontece com todas elas, mas vou usar como exemplo a Festa de São João: antes eu lembro que tinha, além de pastel, tinha também sonho, crepes, tinha quentão de uva e de laranja, tinha árvore da bala, pescaria, jogo de lata, tinha a cadeia do amor, tinha mais de uma quadrilha, etc. Agora as festas tem menos atrações, menos brincadeiras, menos participações, nem sempre tem as danças, apesar de terem bastante frequentadores jogando bingo e tomando cerveja. Lembro que uma vez cheguei a comentar isso com organizadores da festa, que responderam que tem diminuindo o que se oferece pelo fato que antes tinha maior participação dos membros da comunidade ajudando a montar todas essas atrações: “Não tem quem faça isso, não tem que organize. Nós não damos conta de fazer tudo, temos que ter as prioridades.” Outra coisa que se disse é que não pode mais pedir a ajuda das crianças porque isso constitui trabalho infantil e que é contra a lei. São dois pontos que achei bastante preocupantes. E acredito que o mesmo ocorre com as outras festas, em que há menos gente querendo participar e oferecer uma ajuda.

Em relação ao ponto das crianças não poderem mais ajudar, eu nem comento. Uma, porque não estou a par da legislação e outra, porque sou ignorante e não entendo o que passa na cabeça dos nossos legisladores e especialistas que acham que a criança colaborar com uma ajuda de uma tarde em suas escolas ou em suas igrejas faz constituir trabalho infantil, da mesma forma que se estivessem trabalhando em carvoarias. Mas eles têm lá suas razões… Quem é especialista no assunto, pode explicar melhor.

Já o outro ponto, que vem reduzindo o número de pessoas que querem colaborar nesses eventos, acredito que é algo bem preocupante. Será que as pessoas estão perdendo o senso de comunidade? E isso não se resume apenas as festas juninas, mas a todas as iniciativas que partiam da população. Parece que vem diminuindo ano a ano o número de membros da comunidade que querem colaborar voluntariamente, sem receber nenhuma compensação financeira, para fazer algo pela escola de seus filhos, pela igreja a qual frequentam, pelo esporte que praticam, pelo bairro que moram, etc. Lembram-se dos clubes, dos carnavais, dos campeonatos e de todos os eventos organizados pela população que não existe mais hoje? E o engraçado disso é que quanto mais “socialista” se torna o nosso país, mais individualista se transforma o povo. Quanto maior a esfera de atuação do poder público, menos caridosa se torna a população!

Clube Atlético Renascença: Um exemplo de dedicação voluntária ao esporte e da cultura do nosso município

O ponto aqui não é o governo, nem sobre culpar alguém que faz algo esperando ganhar um dinheiro, mas é que a consciência da ajuda ao próximo e de comunidade vem se perdendo. Não dá pra gente só fazer algo esperando que nos paguem. Também não dá pra jogar tudo nas costas do governo, senão eles vão ficar aumentando impostos e criando cada vez mais burocracia para poder fazer tudo que nós poderíamos realizar por conta própria. É claro que temos que cobrar deles, mas nós também temos a nossa parcela de responsabilidade com a comunidade. Ilustrando o assunto, acredito que todos vocês já ouviram a frase “Aqui no Porto não tem nada”.  No entanto, quantos de nós estamos fazendo alguma coisa pela cidade? Ficar só criticando tudo e dizendo “mas ninguém não faz NADA” ou “no porto não tem NADA”, realmente não vai ajudar em NADA. Pelo contrário, só desmotiva quem quer fazer algo.

É visto que aos poucos estamos deixando de lado a caridade e a responsabilidade em relação aos outros. Não adianta ficarmos preocupados com a fome na África, se não oferecemos uma tarde por mês para trabalhar ou organizar algo que vá beneficiar outras pessoas. Soa até mentirosos da nossa parte, pois não temos vontade de fazer algo pela nossa vizinhança e pelas as pessoas que conhecemos, imagina então por quem está longe. E ajudar aos outros, melhorar o local em que vivemos, não é só fazer trabalho social como estamos acostumados a pensar. Por exemplo, as festas juninas não são exatamente isso, mas são algo que movimenta a comunidade e que gera alguma renda para uma entidade, uma escola, etc. Eventos esportivos e até um baile, são uma forma de proporcionar entretenimentos para as pessoas. Até o fato de limparmos o nosso jardim e a frente de nossas casas é algo que acaba beneficiando as pessoas a nossa volta, pois deixa o visual do local mais bonito. Há muitas formas de contribuir para o bem da nossa cidade.

Após esse comentário, quero aqui os meus parabéns àqueles que ajudam a organizar as festas juninas e todas aquelas atividades que não lhe trazem retorno financeiro algum, mas que tornam a nossa cidade mais viva, mais alegre e mais unida! Parabéns a quem ajuda nas escolas, nas igrejas, no Renascença, quem trabalha voluntariamente pelas nossas crianças, quem sai fazer a limpeza do Rio sem esperar um salário por isso, quem organiza eventos esportivos, as quermesses e torna a vida cultural do local mais viva. Pode até parecer pouco, mas vocês fazem muito pela nossa Porto Amazonas!

Já nós que estamos um pouco acomodados, se mudarmos nossa atitude, o que estaremos perdendo? Uma tarde de tédio em frente a TV ou ao computador?  Se formos analisar, só temos a ganhar, pois, além dos benefícios para o nosso município, vamos também crescer como pessoas, pelo fato que iremos desenvolver a nossa capacidade de comunicação, de organização, de liderança, relacionamento, podemos fazer novas amizades, ter um local para frequentar e também vamos sentir que estamos fazendo parte de alguma coisa boa. Então, não custa muito pensarmos um pouco em dar uma força nas festas juninas que se aproximam, custa?

Fica aqui minha reflexão…

Um abraço a todos e uma ótima semana!

O Bairrista

Publicado originalmente no Blog Cultura Porto-Amazonense pelo autor Bairrista em 14 de abril de 2013.

O Blog Cultura Porto-Amazonense não existe mais na internet, espero que o autor se sinta motivado para poder voltar a escrever, se quiser ofereço toda a estrutura do site da Porto FM.

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