A maioria dos alunos dos cursos de graduação das universidades federais brasileiras é oriunda de famílias com renda per capita de até um salário mínimo e meio, predominam os estudantes de cor parda ou preta que cursaram o ensino médio em escola pública e que são os primeiros da família a entrar na universidade. Essas são algumas constatações da 5ª Pesquisa de Perfil Socioeconômico dos Estudantes das Universidades Federais, divulgada no dia 17 de maio pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Federais de Ensino Superior (Andifes).
Estruturado em dados de 2018, o levantamento aponta que 26,61% dos alunos das federais têm renda de até meio salário mínimo, 26,93% de até um salário mínimo, e 16,61% de até um salário e meio, totalizando 70,2%. Em 2014, quando foi feita a última pesquisa, eles eram 66,2%. Por estado, o Pará é onde há mais estudantes com esse perfil: 88%. Na outra ponta, está o Distrito Federal: 47,1%.
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL – Esses estudantes são aqueles beneficiados pelos programas de assistência estudantil. Isso significa que mesmo sem bloqueio de recursos para esse fim, a tendência de crescimento e a quantidade hoje insuficiente para atender a todos vêm preocupando a Andifes. A pesquisa mostrou, por exemplo, que 30% dos alunos participavam de algum programa de assistência estudantil. Eles recebem principalmente assistência em alimentação, bolsa permanência, transporte e moradia.
De acordo com César Augusto Da Ros, integrante do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace), órgão vinculado à Andifes, o levantamento reforça o que já era visto nas pesquisas anteriores e mostra que é errada visão de que as universidades federais são frequentadas majoritariamente pelos mais ricos. “A pesquisa de 2010 colocava por terra o que frequentemente é requentado para professar teses de defesa da cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Posteriormente, as duas pesquisas de 2014 e 2018 são importantes porque aferem uma mudança significativa nas universidades nos últimos 15 anos”, explica Da Ros.
RECORTE RACIAL – Por cor, pardos e pretos somados são, pela primeira vez, mais da metade dos alunos, representando 51,2% do total. Ainda assim, isso está abaixo da média da população brasileira, em que esse índice é de 60,6%. Ao todo, 43,3% dos estudantes são brancos, 39,2% são pardos, 12% são pretos, 2,1% são amarelos, 0,9% são indígenas, e não há informações de 2,5%. Proporcionalmente ao tamanho da população brasileira, os brancos, amarelos e pretos estão sobre-representados. Já os pardos e indígenas são sub-representados. Em relação a 2014, aumentou a proporção de pardos, pretos e indígenas, e diminuiu a de brancos e amarelos.
Outro dado da pesquisa mostra que 60,4% dos alunos fizeram Ensino Médico exclusivamente em escola pública, frente a 60,2% em 2014. Em 2003, eram 37,5%. Se incluídos também aqueles que passaram mais tempo na rede de educação pública do que na privada, o índice sobe para 64,7% em 2018.
Pais não tiveram acesso à universidade
A maioria dos estudantes é oriunda de famílias em que os pais fizeram no máximo o ensino médio: 62,7% deles têm mães que não chegaram à faculdade, e 66,2% têm pais na mesma situação. A pesquisa também apontou que os cotistas são 48,3% do total.
Por orientação sexual, 78,1% se disseram heterossexuais, 16,4% LGBT, e 0,3% assexuais. Os demais não responderam.
A língua estrangeira mais falada é o inglês, em que 32,2% disseram ter um bom domínio. Em seguida vêm o espanhol (10,9%) e francês (2,2%). Além disso, 45,1% participam de atividades ou programas acadêmicos.
Por sexo, as mulheres, que já eram maioria em 2014, aumentaram sua fatia de participação, passando de 52,4% para 54,6% do total. Por faixa etária, voltou a aumentar a quantidade de alunos com menos de 20 anos, que estavam em queda até 2014. Os com 30 anos ou mais tiveram um leve aumento. Os estudantes entre 20 e 24 anos, que eram mais da metade há cinco anos, baixaram para 49,3%. Também houve queda na faixa entre 25 e 29 anos.
EVASÃO – A principal dificuldade relatada afetando o desempenho acadêmico é a falta de disciplina: 28,4% do total. Em seguida vêm dificuldades financeiras (24,7%) e carga excessiva de trabalhos estudantis (23,7%).
Os principais motivos que os fizeram pensar em abandonar o curso são dificuldades financeiras (32,7%), nível de exigência (29,7%), dificuldade de conciliar trabalho e estudo (23,6%) e problemas de saúde (21,2%).
A pesquisa, feita totalmente por meio da internet, ouviu 424.128 estudantes, ou 35% dos 1,2 milhão que fazem curso presencial de graduação em instituições federais de ensino superior. Os dados foram coletados entre fevereiro e junho de 2018.